“In knife we trust”
(Tuhon Greg Alland)
A faca foi a primeira ferramenta inteligente inventada pelo homem. Durante milhares de anos as lâminas acompanharam o ser humano diuturnamente, seja como utensílio ou arma. Na forma de ferramenta, foram desenvolvidos diversos formatos a fim de adequá-los aos objetivos pretendidos: facões para mato, canivetes multi-função, skinners, bowies, hunters, utilitárias, facas de mesa, facas de cozinha, facas de sobrevivência, fileteiras, e assim por diante.
Uma área específica das infinitas utilidades de uma faca, entretanto, é alvo de muitos debates: a faca como arma. Um canivete multi-função deve ter chaves de fenda e phillips, tesoura, lâmina, abridor de garrafas e outros acessórios desejados em situações inusitadas. Ora, e em uma faca de combate, que características são esperadas? Qual é o melhor modelo para uma situação de contato físico?
Os mais conservadores responderiam aos brados alguns modelos bem conhecidos: “Ka-Bar” – diriam alguns – “Facão três listras” – diriam outros. Certamente as respostas poderiam se encaixar perfeitamente para determinadas pessoas: desde o início da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a marinha estadunidense (USMC) passou a adotar facas Ka-bar (ou inspiradas neste modelo, Imagem 1) como padrão.
Para um militar fardado e equipado, que porta um fuzil e uma mochila grande, uma faca de 30 cm praticamente não vai causar desconforto adicional. Apesar do nome, as facas, naquela ocasião eram utilizadas muito mais como ferramentas do que como armas, daí a justificativa de seu design: desbaste hollow, para deixar a lâmina mais resistente, pomo arredondado para ser utilizado como martelo, dorso grosso.
Imagem 2: Gerber LMF II Infantry
Com o passar do tempo, entretanto, ao analisar ambientes diversos, nota-se que uma faca robusta de 30 cm pode ser algum exagero, seja pelo seu comprimento, que dificulta a dissimulação ou pelo tipo de desbaste, que não favorece o corte em detrimento da resistência. Quando inimigo está despreparado, desarmado ou sem equipamentos de proteção (capacete, colete, caneleira) uma faca pequena pode se tornar muito mais útil que uma grande faca.
Em determinadas regiões do Brasil, especialmente nas grandes cidades, o porte ostensivo de uma lâmina pode causar problemas com as autoridades policiais, que podem tentar – embora inadequadamente – justificar a apreensão da faca com base no Art. 19 da Lei de Contravenções Penais. Assim, novamente, facas pequenas ou canivetes podem ser mais interessantes que as grandes lâminas de combate de outrora. Além disso, existem aqueles cidadãos que, por força do hábito ou em nome do conforto podem não desejar portar facas maiores em determinados casos, porém uma ferramenta ou uma arma só é útil quando está ao imediato alcance das mãos em situação de necessidade.
Imagem 3: Spyderco Military Linerlock
A primeira pergunta que alguém deve se fazer ao comprar uma faca que pretende empregar como arma é, portanto, como vai portá-la. Caso contrário seria mais simples: usar-se-iam espadas ao invés das facas e a vantagem da distância resolveria o problema, todavia, se a espada estiver em casa, tornou-se inútil. Antes um canivete de 3” na mão, que uma Claymore na parede.
Em seguida, alguns cuidados referentes à funcionalidade da peça devem ser tomados: uma faca que não corta, por exemplo, é só um pedaço de metal. Uma faca, seja de combate ou não, deve estar sempre perfeitamente afiada, assim, os cortes terão mais eficiência e quaisquer obstáculos (roupas, luvas, etc) serão cortados. A eficiência do corte tem relação com o tipo de fio, a geometria da faca, o aço utilizado, a técnica de quem corta, evidentemente, além de outros fatores.
Outro ítem a ser considerado é a ponta. Em algumas escolas de combate com facas priorizam-se os cortes, em outras, as estocadas. Ora, em regra, as estocadas causam orifícios maiores quando comparadas aos golpes de corte e, em certos momentos podem ser mais desejados. Não importa em que escola você treine, não existe motivo para que se ignore a funcionalidade de uma ponta. Pontas alinhadas com o cabo costumam ser melhores para estocada que pontas desalinhadas.
Imagem 4: SOG Daggert II Black. Exemplo de ponta alinhada com o cabo.
Imagem 5: SOG Countour. Exemplo de ponta fora do eixo do cabo.
A guarda, em uma faca, tem a função principal de evitar que os dedos corram para o fio em golpes de estocada. Quando se observam os casos de pessoas que usaram facas de cozinha para estocar alguém, são comuns os cortes nos dedos. A guarda deve ter tamanho suficiente para evitar isso, porém, sem prejudicar o conforto e a portabilidade da peça.
O pomo pode ser usado como arma de impacto e, em regra, é desejável que seja pontiagudo e de metal, para causar mais impacto. Algumas das cutelarias industriais contemporâneas tomam bastante cuidado na confecção desta parte da faca, que ficou popularmente conhecida como “Skull Crusher” (do inglês, quebra-crânio).
Imagem 6: Wilson Tactical Model 7 Tactical Fighter. Skull Crusher de aço.
No caso dos canivetes, é importante saber que uma lâmina dobrável jamais será tão resistente quanto uma lâmina fixa. Entretanto, as cutelarias investem horas de estudos e testes a fim de desenvolver sistemas de travas que os tornem o mais confiável possível. Todo canivete que vai ser usado como arma deve ter trava. Os modelos de trava mais comuns são os lockbacks os linerlocks (Imagem 3) e os framelocks.
Por último, mas não menos importante, deve-se levar em consideração a bainha ou a facilidade de saque do seu canivete. Uma arma deve sempre estar de fácil acesso e poder ser sacada rapidamente. Uma faca na mochila ou na bolsa não serve como arma. Provavelmente, até que você consiga tirar a faca de lá, já estará morto. Assim, é importante que a bainha “colabore” com o seu saque, de modo a: estar em posição favorável (uma neck knife embaixo de uma camisa de botões que está por dentro de uma calça e de um blazer não é uma boa) e não ter travas exageradas ou difíceis de serem abertas. Idealmente, existem bainhas que seguram o peso da faca tranquilamente, mas soltam a faca com um auxílio de um puxão.
Imagem 7: Bainha de Kydex da Ka-bar. A faca se prende na própria bainha sem a necessidade de usar a trava adicional, que pode ser fechada caso desejado.
Imagem 8: Bainha de Cordura. Existe a necessidade de usar a trava para que a faca não caia.
Ao optar por usar uma faca como arma deve-se, portanto, compreender que a lâmina precisa se adequar ao cotidiano de quem a utiliza. A portabilidade está diretamente relacionada com a utilidade da faca, assim como a qualidade do fio, seus acessórios e sua bainha. Não existe um modelo que seja universalmente ideal. Cabe a cada um analisar as suas necessidades, sua rotina e os pontos que considera mais relevantes. Alguns podem preferir abrir mão da guarda, em detrimento da portabilidade, outros não. Alguns podem preferir facas sem pomo de aço, e assim por diante. O mais importante é que está companheira sempre esteja com você, bem cuidada e pronta para o uso.
Uma boa faca, utilizada por um homem com treinamento sério, tornar-se-á ferramenta e arma indispensável para militares, policiais ou civis, em trabalho ou no descanso, não importa em que região do planeta.
FACA SEMPRE.
Sugestão de avaliação de uma faca como peça de combate:
Quesito Nota de 0 a 10
Geometria de lâmina ( )
Ergonomia de empunhadura ( )
Ponta ( )
Qualidade do fio ( )
Resistência ( )
Portabilidade ( )
Guarda ( )
Pomo ( )
Saque/Bainha ( )
Total: ( )
Dividir por 9. Resultado Final:
Resultados:
Acima de 7: Você tem uma boa faca de combate. Pode confiar nela.
Entre 5 e 7: Provavelmente uma boa faca, porém deve deixar a desejar em algum quesito.
Menos que 5: Não é uma boa opção para combate.
Lucas Silveira
SILVEIRA KNIVES
Todas as facas do mundo
http://www.silveiraknives.com.br/